Colecionando memórias

Cristina Schonwald de Oliveira Gestora para Assuntos da Terceira Idade e escritora

Sentado em uma antiga cadeira de balanço com a madeira desgastada pelo tempo, estava o idoso com seus cabelos e barba já brancos e com seus olhos focados no momento presente. Enquanto ele embalava-se sentindo o prazer do vaivém da cadeira, observava atentamente um pequeno grupo de crianças que estavam brincando. O local era um pequeno pátio, cercado por variadas plantas, onde algumas se encontravam em plena floração, trazendo para o ambiente um colorido vibrante. Com seu olhar atento, ele notava tudo o que o envolvia, plantas, flores, a areia e a grama sendo revolvidas pelos pés das crianças que corriam ligeiras atrás de uma bola. Sons de gritos, risadas e exclamações que se misturavam ao canto dos pássaros e ao cheiro das flores e da terra quando levantava poeira ao ser revirada.

 Aquecido pelo calor do Sol, o idoso se deixou embalar pela beleza daquele momento que estava rico em diferentes sensações. Este dia ficou marcado na sua memória, e, a cada vez que era relembrado, fazia surgir um sorriso no rosto, acompanhado de um gostoso calor e conforto para seu coração.

Quando estamos presentes e atentos a cada situação do nosso dia a dia, temos uma oportunidade de colecionar recordações. Assim, valorizando os instantes mais simples que passamos, juntamos memórias que servirão para o futuro, para quando precisarmos fortalecer e aquecer nossos dias com boas energias. Reunimos na memória ocasiões vivenciadas para as situações em que nos sentirmos tristes ou solitários.

Esses momentos de pequenas experiências que vamos acumulando se configuram, com o passar do tempo, em um alicerce. Esta base também irá ajudar na superação de obstáculos que são muitas vezes doloridos e fazem parte da trajetória de uma existência. Sim, é necessário prestar atenção ao que estamos vivendo naquela hora e naquele lugar. Além disso, devemos desfrutar de nossos sentidos com zelo, pois são eles que nos possibilitam uma boa colheita. E compartilhar lembranças é também viver a essência da vida.

Afinal, o que de fato conta na nossa vida? Estamos deixando passar o que é importante, não prestando atenção na nossa volta? Quais são as nossas reais necessidades? Será que esquecemos de nós e do que de fato precisamos? Ou estamos atentos a nossas experiências e ao que sentimos?