Brumas do pensamento

Cristina Schonwald de Oliveira Gestora para Assuntos da Terceira Idade e escritora

Toda jornada é uma jornada de aprendizagens e de inúmeras experiências. Todo caminho que se apresenta vem para nos mostrar novos conhecimentos e nos proporcionar novas habilidades. Todas as dúvidas chegam para nos despertar para a procura do conhecimento e do entendimento do que estamos vivendo.

                Um determinado cheiro, ou até um leve aroma, pode nos levar a outras esferas de sensações, conduzindo-nos por lembranças que muitas vezes não são identificáveis no presente. O canto de um pássaro ou a brisa nos tocando o rosto, apenas um instante, um momento de sentir e deixar despertar as emoções e percepções que surgem espontâneas. Muitas sensações despertam memórias adormecidas e acordam pensamentos que nos levam a refletir.

                Foi assim que, passando por densas brumas da consciência, aos poucos, foi se delineando uma pequena fração de um instante vivido por um viajante do tempo. Caminhando através das areias do deserto, ele se depara com um imenso lago de águas muito límpidas e calmas, sem nenhuma ondulação. A água refletia placidamente, como em um espelho, a imagem de montanhas, de árvores e de pedras que se encontravam ao seu redor. Foi como se ele tivesse saído de uma dimensão árida e penetrado bruscamente em outra, plena de abundante frescor e pulsando vida.

                A mudança é tão drástica que, por alguns instantes, causa espanto e ao mesmo tempo incredulidade. Mente e coração em sintonia absorvem o inusitado do momento, buscando dentro de si um equilíbrio e o entendimento do que está acontecendo. Quando alguém permite-se abrir o pensamento para contemplar uma percepção, abre-se a possibilidade de compreensão muito além do que se vê ou pensa. A história da nossa existência acontece dentro de nós e fazem parte dela tanto a aridez como a abundância.

                Buscar o equilíbrio entre a razão e a emoção nem sempre é fácil. Para que possamos caminhar em harmonia com nossas lembranças, com nossas emoções e com nossa história de vida, precisamos fazer o exercício diário e constante de procurar nos conhecer. Como diz o psiquiatra e psicoterapeuta Carl Gustav Jung:  

“Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro acorda.” Vamos acordar?